Nas nossas vinhas, podem notar-se, com alguma frequência, a falta destes dois nutrientes e em especial a sintomatologia da carência de magnésio, que é notória nos meses do Verão.

A carência de magnésio, para além dos sintomas que provoca a nível das folhas das videiras, pode provocar quebras de produção, quer em termos quantitativos, quer em termos qualitativos.

Esta carência nas vinhas pode ser a causa do aparecimento de alguns acidentes fisiológicos, como é o caso da dessecação do engaço, que poderá ter consequências graves a nível da produção e da qualidade dos vinhos.

Dentre os micronutrientes e no caso particular da vinha, vamos referirmos ao boro, que é considerado o de maior importância, pela sua acção a nível da fecundação e desenvolvimento dos bagos.
A carência de boro é aquela que tem reflexos mais nefastos na produção e a que se encontra mais presente nas nossas vinhas.

Nesse sentido, vamos descrever neste artigo, a sintomatologia das carências destes dois nutrientes, as suas causas e o modo de tratamento das mesmas.

Boro

O boro é um micronutriente essencial no processo da floração e da frutificação da videira, cuja falta afecta a produtividade e a qualidade da uva.

O seu papel na vinha é determinante:

  • Na absorção do Fósforo e do Cálcio pela planta;
  • Na absorção da água;
  • Na germinação do pólen e no crescimento do tubo polínico;
  • Na divisão celular;
  • No transporte do açúcar para os cachos.
Sintomatologia da carência de boro

Esta carência pode surgir de um bloqueio deste micronutriente em solos de pH elevado, assim como em solos ácidos e secos, quando a temperatura do ar é elevada.
Se a carência de boro é um problema grave, que tem reflexos negativos no bom desenvolvimento vegetativo das plantas e na produção, o excesso deste micronutriente é fitotóxico.

A carência em Boro afeta:
  • as folhas: os limbos apresentam-se espessos, duros e empolados
  • a floração: as inflorescências secam, sem formarem bagos;
  • o vingamento: os bagos ficam pequenos e caem
  • os cachos: os bagos ficam com uma cor de chumbo
A qual na vinha se traduz por:
  • Uma floração arrastada (queda difícil das caliptras florais;
  • Um forte desavinho (flor não fecundada);
  • Os bagos não se desenvolvem (bagoinha);
  • A migração dos açúcares faz-se mal;
  • O risco de dessecação do engaço é maior.
São condições favoráveis para a sua falta:
  • A insuficiência de Boro no solo;
  • Solos ácidos e ligeiros;
  • Solos de pH elevado, que bloqueiam este micronutriente;
  • Fortes adubações em azoto e potássio, que aumentam a necessidade deste nutriente na vinha; (Fertigranu N6)
  • Períodos de secura.

A apreciação do teor de boro disponível para a planta pode realizar-se através dos resultados das análises de solo e foliares.
Uma concentração de boro inferior a 0,5 mg/kg no solo e inferior a 20 ppm de B/m.s. na folha, traduzem um estado de carência.

Como e quando corrigir?

O boro é aplicado ao solo ou via foliar na forma de bórax (tetraborato de sódio), ácido bórico ou borato de sódio.
As doses a aplicar estão dependentes dos teores a nível do solo, das folhas e das águas de rega.

A incorporação de Boro no solo deve ser realizada no período de repouso vegetativo da vinha (Novembro/Dezembro), com Bórax, contendo cerca de 11,5 % de B..
Via foliar: recorrendo às pulverizações com Borato de sódio (Solubor) à razão de 200 a 250 gramas por 100 litros de água.
Actualmente existem no mercado um grande número de fitonutrientes, que contêm boro ligado a moléculas de etanolamina e aminoácidos, que o tornam mais assimilável e com maior mobilidade na planta.

Magnésio

É um constituinte da clorofila, com as seguintes funções:

  • Importante na fotosíntese;
  • Intervém no metabolismo do fósforo;
  • Importante na elaboração dos açucares;
  • Intervém na síntese das proteínas e das vitaminas.

Na generalidade dos casos, esta carência encontra-se nos solos com baixos teores de magnésio, mas também em solos com pH ácido (inferior a 6) e em solos de textura ligeira.

A absorção do magnésio pode ser altamente prejudicada por uma assimilação excessiva de potássio (antagonismo K/Mg).
Indução de carência de Mg por excesso de adubação potássica (Delas e Molot, 1967 e 1968). A carência de Mg pode provocar uma diminuição do rendimento e um ligeiro abaixamento do grau alcoólico.

Sintomatologia da carência de Magnésio:

  • Amarelecimento e necroses internervuras (Figura 5 e 6);
  • Queda precoce das folhas.
Amarelecimento e necroses internervuras

No início, a carência de magnésio e a carência de potássio podem causar alguma confusão, apesar das diferenças entre elas. A observação atenta das sintomatologias, chegam para evitar possíveis confusões: os sintomas da falta do magnésio aparecem com cloroses internervuras, passando em casos mais avançados a necroses; pelo contrário, no caso da carência em potássio, os primeiros sintomas manifestam-se na zona marginal das folhas (figuras 7 e 8), seguidas de necroses.

Outras diferenças

Magnésio: os sintomas localizam-se nas folhas adultas da base, em direcção às folhas mais jovens da extremidade.
Potássio: os sintomas manifestam-se nas folhas mais jovens da extremidade, em direcção às folhas mais velhas, descendo até à base dos sarmentos.

São condições favoráveis para a sua falta:
→ Fraco teor de Magnésio no solo, especialmente em solos ácidos;
→ Excesso de adubações potássicas;
→ Lixiviação em solos de textura ligeira, especialmente após fortes chuvas no fim do verão;
→ Sensibilidade de alguns porta-enxertos, caso do SO4 e do R110.

  • A apreciação do teor do magnésio disponível para a planta pode realizar-se através dos resultados das análises de solo e foliares.
  • Uma concentração de magnésio inferior a 60 mg/kg no solo traduz um estado de carência, sendo os valores na folha adequados (plena floração) entre 0,30 a 060 %.
Como e quando corrigir?

Via solo:
Se o solo apresentar baixos teores de magnésio e for necessário corrigir a sua acidez, deve recorrer-se aos calcários magnesianos.
Se os teores de potássio no solo se apresentarem elevados, deverá aumentar-se a quantidade de magnésio a utilizar, até ao máximo de 30 a 40 kg/ha de Mg.

AUTORIA: António Pedro Tavares Guerra, Engenheiro Técnico Agrário
. Licenciado em Engenharia Agro-Pecuária
. Formador e Consultor Técnico em Nutrição Vegetal
*Escrito ao abrigo do anterior Acordo Ortográfico

Publicado na Revista Voz do Campo, edição nº. 225, abril 2019.

Fonte: Negócios do Campo

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