Os citrinos não passaram de moda, mas o que está agora a dar, dizem, são os abacates. Num terreno com 76 hectares, um agricultor investiu dois milhões e outros seguem-lhe o exemplo. Nos últimos seis anos não se construíram campos de golfe no Algarve. Mas, a contracorrente do discurso dominante do abandono das terras, está-se a plantar pomares de abacates em propriedades que estavam destinadas à construção de dois campos de golfe, que se iriam juntar aos 38 existentes na região. A planta, originária dos climas subtropicais e tropicais, faz as delícias dos promotores das culturas emergentes. A partir de Málaga (Andaluzia), uma organização de produtores — Trops (empresa que exporta para 25 países) — garante o escoamento da produção nacional e não há fruta que chegue. O Algarve já conta mais de mil hectares de pomares desta espécie e soma e segue com novas plantações para o próximo ano. A produção de frutos vermelhos, fortemente instalada no Sotavento algarvio, está a passar de moda. A confinar com o campo de golfe de Espiche (Lagos), Luís Gonçalves adquiriu uma propriedade com 154 hectares. “Quando comprei a herdade, em 2014, informaram-me que o terreno tinha estado comprometido para o projeto turístico-desportivo de Sven-Goran Eriksson”, conta. A opção que tomou não foi construir mais um hotel, golfe e equipamentos desportivos, como estaria projetado. Eriksson, o ex-técnico do Benfica e antigo selecionador da equipa inglesa de futebol, foi o rosto da promoção de um investimento de 50 milhões nesta zona, mas acabou por abandonar o projeto. O Governo português de então, à semelhança do que fez com outros potenciais investidores, chegou-lhe a conceder o estatuto de projeto de potencial interesse nacional (PIN) para aligeirar procedimentos administrativos e ultrapassar barreiras ambientais. As máquinas estão no campo, a moldar o solo para a exploração agrícola, acompanhando as tendências de mudança que se estão verificar no Sul de Espanha. Sinais dos novos tempos. Durante o período de intervenção da troika instalou-se na região, à semelhança do que se passou noutras zonas do país — um vazio no modelo de desenvolvimento. O sector turístico ficou à deriva. Os chamados “projectões PIN”, propagandeados pelo poder central e aclamados pelas câmaras, criaram uma realidade virtual alicerçada em milhões que não saíram (ou fugiram) dos cofres bancários. O ex-primeiro-ministro José Sócrates, só de uma assentada, anunciou na Herdade dos Palmares — Meia Praia (Lagos) — uma dezena de projetos (1500 milhões). O sector agrícola tradicional afundou-se, instalaram-se as culturas emergentes, geridas a partir de um telemóvel ou terminal de computador.

Fonte: Público

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